sexta-feira, 28 de outubro de 2011

março de 1976...parece que foi ontem...

Emilio Eduardo Massera, Jorge Rafael Videla e Orlando Ramon Agosti
Corria o ano de 1976. Resolvi nas minhas férias visitar um grande amigo argentino chamado Jorge Luis Bogner,  residente em Buenos Ayres, Argentina. Desci no aeroparque depois de embarcar em um avião caindo aos pedaços na cidade  de Uruguaiana. Cheguei pelas 16:00 horas e fui direto a casa do meu amigo que morava em um bairro chamado Leon Suarez, vizinho a Villa Ballester e Malaver Libertad. Minha chegada foi no dia 10 de março e dias depois (22 de março) estávamos nós vendo tv e fomos informados do golpe militar através da televisão. Caía o governo de Maria Stella Martinez de Peron e se instalava naquele triste momento uma ditadura pavorosa governada por uma junta militar. Faziam parte da Junta  tres militares, um de cada força militar, ou seja, Exército, Marinha e Aeronáutica.  Esses militares por sua vez escolhiam, entre si claro, quem seria o novo presidente que conduziria os argentinos .As juntas por ordem foram:
Em cada uma destas etapas, as juntas designaram como «presidentes» de fato a Jorge Rafael Videla, Roberto Eduardo Viola, Leopoldo Fortunato Galtieri e Reynaldo Benito Bignone respectivamente, todos eles integrantes do Exército. Bignone, foi o único "presidente" que não pertenceu à junta.O «Processo de Reorganização Nacional» levou adiante uma guerra suja na linha do terrorismo de estado que violou massivamente os direitos humanos e causou o desaparecimento de dezenas de milhares de opositores. Mas isso, a história já registrou e todas as pessoas informadas já tiveram conhecimento. Quero me manifestar a respeito porque acompanhei de perto o evento, estando lá naquele momento (fiquei vários dias sem poder sair da capital federal) . Andei pelas ruas e vi a atrocidade cometida pelos militares, parando veículos e retirando pessoas de ônibus e do  "subte" (como os argentinos da capital chamam o metrô). Tudo com uma violência terrivel, as baionetas caladas, chutes, tapas na cara e empurrões para dentro de "Falcons" esverdeados. Consegui sair do país 20 dias depois. Passei momentos de extremo perigo no aeroporto de Ezeiza tomado pelos militares cometendo a maior violência contra as pessoas que retornavam a seus países de origem. E ali, naquele momento cruzei com uma figura que me marcou muito pois ao revistar-me no embarque por alguma razão que desconheço deixou-me embarcar de volta para minha terra. Acontece que eu trazia na carteira alguns panfletos dos montoneros ( terroristas) que tinha recebido no metrô. E eles encontraram aqueles papéis quando da revista procedida a todos que embarcavam. Era um militar garboso, cheio de estrelas, num uniforme branco (Marinha) e com um olhar penetrante, assustador. Expliquei a ele que trazia apenas por curiosidade de turista e queria mostrar a meus amigos aqui no Brasil. O militar deveria ter a minha idade, 25 a 26 anos. Olhou-me de cima abaixo e senti , ali que não me deixariam sair do aeroporto. E a seguir, do País. Fez-me algumas perguntas e já estava cercado de militares por todo o lado, junto ao balcão da Varig. Houve um tumulto maior logo ao lado e virei-me para ver. Prenderam um cidadão que estava com a espôsa e foi aquela gritaria. O militar perdeu o interesse em mim e separando os panfletos dos montoneros da minha carteira disse-me olhando bem dentro dos meus olhos: - Usted me puede dar este regalo, señor? Respondi : si, de pronto señor!!!
E ele... ay está. Buen viaje señor Ferreira. Naquele momento a ficha não caiu. A adrenalina era tão forte que não deixava o medo aflorar, não tinha ainda aferido a gravidade da situação. Consegui entrar na aeronave e isso era umas 19:00 hs. Ficamos até as 21:30 sem poder decolar rumo ao Brasil. E nesse ínterim os militares entraram por várias vezes dentro do avião e retiraram pessoas presas. E eu, sentadito meio encolhido numa poltrona na janela do avião pensava o que aconteceria se eles encontrássem um monte daqueles panfletos que estavam dentro das minhas malas que despachei como bagagem. Ali fiquei rezando baixinho para que liberassem o Varig pra POA. E assim foi. Só fui  "esvaziar" quando o comandante da aeronave avisou por rádio que estávamos em território brasileiro.
Amanhã, conto o desfecho e o porque dêsse preâmbulo. Até lá...

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