sexta-feira, 13 de julho de 2018

"O Discurso da Servidão Voluntária”



Texto do Marco Antonio Valério (extraído do Blog do Prévidi-RS)



  • Você já deve ter se perguntado: por que nós nos submetemos? Será que essa minoria que inferniza e atrasa o país se manteria no poder se nós (a maioria) simplesmente não mais aceitássemos a sua tirania? Tipo assim: chega!, fora!, c'est fini! Sem violência, sem quebra-quebra, sem palanque, sem líderes populares, sem esquerda, sem direita. É nóis e estamos conversados.

  • Pois, esta pergunta se instalou em minha cabeça quando o mau-cheiro produzido por tiranetes de plantão acabou com o meu domingo. Fui atrás de respostas. Estou em 1549, na Universidade de Orléans. Dou de cara com Étienne de La Boétie, um francês de 19 anos, estudante de Direito, muito inteligente. Ele acaba de escrever um ensaio poderoso: “O Discurso da Servidão Voluntária”. A lebre levantada por Étienne vem a calhar.

  • Ele diz mais ou menos o seguinte: toda tirania está baseada na aceitação do povo. Ou seja, os tiranos (aqueles que chegam ao poder pelas armas ou pelo voto), segundo ele, não caem porque o povo está de acordo com a própria subjugação. Esses canalhas continuam nos governando porque gostamos de ser escravizados. Ôpa! É isso mesmo, Étienne? Exatamente. Toda tirania está baseada numa aceitação popular. Se não fosse isso, nenhum poder governamental aguentaria por muito tempo.

  • O francês se empolga: o tirano é um indivíduo, certo? Certo. Ele dificilmente obteria a obediência de outra pessoa, e muito menos de um país inteiro, se a maioria não consentisse com esta obediência. A pergunta que você tem que se fazer é por que o povo obedece a uma minoria da sociedade. Medo? Negativo. É costume, mon ami.

  • As pessoas se convencem de que são súditas. Essa ideia passa de geração para geração. Além disso, os canalhas investem pesadamente em propaganda para que a maioria acredite em sua sabedoria, justiça e... inocência. E mais. Eles patrocinam uma hierarquia de aliados subordinados, um bando de serventes, funcionários públicos e burocratas leais. Esse pessoal dissemina a farsa.

  • Funciona assim: cinco ou seis indivíduos são os conselheiros e beneficiários principais. Esta meia dúzia mantém seiscentos. Esses seiscentos conservam seis mil e assim vai. Em troca de sua própria subjugação, esta ordem de subordinados oprime o resto do povo. Faz sentido. Mas como é que a gente acaba com o poder destes tiranos? Tire os fundos e os recursos que o povo destina continuamente a eles. Enquanto isso, lá fora, o domingo segue frio e chuvoso.
(em tempo: muitoo bomm..é exatamente isso, penso e repito,  eu.)