segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Felicidade...Herman Hesse.


Herman Hesse (1877-1962) escritor alemão, suiço por adoção, era um escritor cuja sensibilidade  se afinava ou harmonizava de modo feliz com o clima dos anos da contracultura e do movimento hippie e, por isso ele voltou a se tornar um sucesso entre os jovens de então. Sempre gostei de ler Herman Hesse e gostaria de passar algumas pinceladas em meu blog sobre esse escritor, tão importante na literatura mundial. Li esse texto "Felicidade" que foi publicado no Brasil pela editora Record lá por volta de 1999 ou 2000, fim de século, início de um novo.; Vou postá-lo em duas ou tres partes para meus amigos poderem ler e meditar, essa maravilha pensada e escrita por Herman Hesse, natural do povoado de CALW, Alemanha, e que aos 35 anos deixou seu país natal, rompendo com sua família e seu País,  se instalando na localidade  de Montagnola na Suiça, onde ficou até o final de sua vida. Vale a pena. Boa leitura.
" O ser humano, como Deus o imaginou e a literatura e sabedoria dos povos o entenderam por muitos milhares de anos, foi criado com uma capacidade de alegrar-se com as coisas mesmo que não lhe sejam úteis, com um orgão reservado para apreciar o que é belo.
Espírito e sentidos sempre participaram em igual medida nessa alegria do homem pelo belo e, enquanto pessoas forem capazes de se alegrar, no meio de pressões e perigos, com coisas como as cores da natureza ou um quadro pintado, o chamado da voz da tempestade ou da música feita pelo homem, enquanto atrás da superfície dos interesses e necessidades o mundo puder ser visto ou sentido como um todo onde existe uma ligação do movimento de um gato com as variações de uma sonata, do comovente olhar de um cão com a tragédia de um escritor, num reino múltiplo de mil relações, correspondências, numa linguagem eternamente fluindo para dar ao ouvinte alegria e sabedoria, divertimento e emoção - enquanto isso existir, o homem poderá sempre voltar a dominar suas fragilidades  e atribuir um sentido à sua existência, pois "sentido" é aquela unidade do múltiplo, ou aquela capacidade do espírito de pressentir unidade e harmonia na confusão do mundo.
Para o verdadeiro ser humano, íntegro, inteiro e intacto, o mundo se justifica e Deus se justifica incessantemente através de milagres como este: que além do frio da noite e do fim do período de trabalho exista algo como a atmosfera vermelha no crepúsculo e as fascinantes transições do rosa ao violeta, ou algo como as mutações do rosto de uma pessoa quando, em mil transições é recoberta, como o céu noturno, pelo milagre do sorriso ; ou que existam as naves e janelas de uma catedral, a ordem dos estames no cálice da flor, o violino feito de madeira, a escala de sons, algo tão inconcebível, delicado, fruto do espírito e da natureza, racional e ao mesmo tempo supra-racional e infantil como a linguagem.
A linguagem com suas belezas e surpresas, seus enigmas, sua aparente perenidade, mesmo assim não está livre de fraquezas, enfermidades, perigos aos quais está exposto tudo o que é humano - e isso a torna para nós, seus discípulos e servos, um dos mais misteriosos e nobres fenômenos na Terra.
E não é apenas que cada povo ou comunidade cultural tenha criado a linguagem que corresponda a suas origens e ao mesmo tempo sirva aos seus projetos ainda não pronunciados não apenas que um povo possa aprender, admirar, rir da linguagem de outro povo e mesmo assim nunca a entender inteiramente! Não: também para cada indivíduo, na medida em que ele não viva em um mundo ainda afásico ou excessivamente mecanizado, e por isso mesmo novamente afásico, a linguagem é um bem pessoal; para cada falante, portanto para cada ser humano inteiro e íntegro, palavras, sílabas, letras, formas e as possibilidades da síntaxe, têm seu valor especial que só a elas cabe, e cada linguagem legítima pode ser sentida e vivida por cada pessoa de maneira totalmente pessoal e única, ainda que ela não se dê conta de nada disso."
Amanhã tem mais...e tenha a certeza....é muito bom ler Herman Hesse....

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