Junta Militar responsável pelo desaparecimento de milhares de pessoas na Argentina
pianista Francisco Cerqueira Tenório Júnior, o TenorinhoQuase 50 anos após desaparecer em Buenos Aires dias antes do golpe militar na Argentina, o pianista Francisco Cerqueira Tenório Júnior, o Tenorinho, foi confirmado morto, informou a Embaixada do Brasil na Argentina neste sábado (13/9/2025) Parceiro de Vinicius de Moraes e Toquinho, Tenório Jr. foi visto pela última vez em 18 de março de 1976, após show lotado na área central de uma Buenos Aires que vivia uma instabilidade política pré-golpe militar. Ele saiu do hotel para ir à farmácia e comprar cigarro - e nunca mais foi visto. Esse show foi realizado no Teatro Gran Rex na Avenida Corrientes , a aproximadamente 7 ou 8 quarteirões do Hotel Normandie onde também eu estava hospedado e de onde saí a pé em direção ao teatro para ver o show. Era, se não me engano, uma quinta-feira e as ruas já estava tomadas por militares armados já prenunciando o que aconteceria dias depois. (24 de março - era meia noite e a tv nacional entrou em cadeia com a fala do General Jorge Rafael Videla comunicando a intervenção militar que depôs a Presidenta Maria Estela Martinez de Perón (Isabelita Perón) e que cometeu atrocidades de todo o tipo até ano de 1983.) O Golpe Militar , este realmente efetuado, que sirva de aviso aos defensores da "tentativa" que não se realizou aqui no Brasil, graças a Deus e aos comandantes do exército e da aeronáutica, verdadeiros patriotas, que não aderiram ao plano golpista de Jair Bolsonaro e seus asseclas.
Mais um capítulo desse registro trágico da história que se encerra. A identificação dos restos mortais de Tenórinho comprovando seu assassinato pelas forças militares do Exército Argentino possivelmente na ESMA ( Escola Superior de Mecânica Armada) uma unidade da Marinha Nacional Argentina, centro clandestino de detenção durante a ditadura militar. Nesse local atuava, entre muitos militares torturadores , Alfredo Astiz, um dos mais cruéis torturadores da Ditadura Militar e que teria, segundo informações posteriores, assassinado Tenórinho a tiro depois de dois dias sendo torturado.
Abaixo transcrevo a nota dada pelos familiares de Tenórinho, com certeza tomada de tristeza pelo desfecho dessa atrocidade cometida por verdadeiros monstros travestidos de militares. Que as pessoas nunca deixem de lembrar essa atrocidade para que no futuro não aconteça com nossos filhos e netos o mesmo que ocorreu com esse jovem, músico talentoso, bom pai, bom amigo, morto por malucos aos 35 anos.
“Recebemos a notícia da identificação do corpo de nosso pai com surpresa, claro, e um misto de alívio e tristeza. Alívio porque, finalmente, podemos saber com mais segurança o que aconteceu com ele naquele triste março de 1976. De alguma maneira, estaremos mais próximos. Tristeza pela confirmação de que Tenório foi vítima da violência e enterrado como um desconhecido, longe da família, dos amigos, dos parceiros de música.
Um pianista de apenas 35 anos, respeitado em seu meio, pai de cinco filhos, que foram privados de sua convivência, obrigando nossa mãe a criar sozinha cinco crianças, de 8, 7, 5 e 4 anos, além de uma que não chegou a conhecer o pai. Nasceu um mês depois do desaparecimento. Tenório não conheceu o filho caçula nem os oito netos.
Durante muito tempo, mesmo sabendo que era improvável, alimentamos a esperança de revê-lo. De que um dia a porta da casa se abrisse e ele entraria. O “Papú”, como o chamávamos. Com o tempo, compreendemos que não teríamos mais respostas. Que teríamos que conviver sem saber o que aconteceu de fato. É um choque saber que ele estava lá o tempo todo.
Nesta hora, lembramos principalmente da nossa mãe, Carmen, que cuidou de nós e nos protegeu de todas as formas que uma mãe poderia fazer. Que encarou dificuldades para nos criar, enfrentou tudo, chegou a ir à Argentina, prestou depoimentos às autoridades. Que nos ensinou a ter autonomia, responsabilidade, a cuidar das nossas vidas. É o que fazemos todo dia, honrando sua memória.
Ainda queremos e precisamos de respostas. Quem matou Tenório? Por quê? Por que matar um homem sem nenhum envolvimento político, que só vivia para a música? Durante anos ouvimos versões, histórias que agora se revelam falsas.
Agradecemos ao EAAF por essa descoberta depois de quase meio século. É preciso que seja feita uma nova investigação. Em nome da memória que não pode se perder. Esperamos que, desta vez, as autoridades possam nos dizer o que aconteceu. A dor não irá embora nunca, mas a justiça pode trazer conforto.
Elisa Andrea Tenório Cerqueira, Francisco Tenório Cerqueira Neto e Margarida Maria Tenório Cerqueira”
Em 2011 os legisladores da cidade de Buenos Ayres colocaram essa placa na entrada do Hotel Normandie em homenagem a Tenórinho.
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