Aqui no Brasil,
diferente dos Estados Unidos, não há tolerância com a arrogância nos negócios.
Lá é normal uma pessoa se vangloriar dos seus sucessos, ostentar suas
conquistas e posicionar-se como um vencedor.
Aqui, se você fizer isso, é trucidado.
Então temos por aqui um código implícito que pouco tem a ver com aquilo que
lemos nos livros de vendas e vemos nos filmes que tratam de negócios.
Algumas diferenças entre as duas culturas.
1. Objetividade
Por aqui você deve agir sem muita objetividade e usar um pouco de rodeios antes
de entrar no assunto em si.
Acontece que muitas vezes essa fase de falar de tudo menos do que interessa
toma tempo demais e isso é ruim para quem está na mesa.
Dentro da objetividade, que é um tópico mais complexo, eu encaixaria a falta de
foco, foco esse que ambos os interlocutores tem que preservar pelo seu bem comum.
Mas como no nosso código social, precisamos falar de tudo menos do que
interessa, para "esquentar a conversa" então o foco fica escondido
sob algumas gordas camadas de dispersão que somente diluem sua energia.
2. Dinheiro e valores
Aqui no Brasil a questão do quanto vale ou quanto você ganha ou quanto eu
cobro é tratada com todo cuidado.
Parece que falar de dinheiro por aqui é um tabu, quase uma vergonha.
Mas sabe de uma coisa? Isso não é somente por aqui não. Lembro de um empresário
grego que queria vender seus serviços de turismo aqui e falei na lata quanto
custaria para ele fazer uma campanha de captação de agência de turismo.
Falei logo no primeiro call. Ele ficou ofendido. Fazer o que..?
Prefiro falar logo do que gastar 8 reuniões até chegar na questão de valores e
orçamento para aí sim a pessoa se ofender (geralmente fazem isso sumindo,
depois de receber uma proposta).
Não sei as origens desse comportamento, mas também me sinto desconfortável em
dizer na lata quanto valem meus serviços. Incrível isso, mas 30 anos operando à
luz do mesmo código, você acaba sendo sua amostra mais perfeita.
De toda forma, mesmo desconfortável, falo de valores logo no primeiro encontro
ou no máximo no segundo.
3. Sucesso
Aí que eu vejo a maior diferença entre culturas nos negócios. Aqui no nosso
país, se você fizer sucesso, vai incomodar muita gente, inclusive dentro da sua
casa.
Preto no branco: Sucesso agride. E aqui não digo apenas sucesso financeiro.
Digo do seu sucesso pessoal, que pode ser um diploma, uma promoção, um novo
emprego, uma nova habilidade, um reconhecimento, enfim tudo aquilo que você
lutou para conseguir.
Ao conseguir, se você brandir para o universo a sua conquista, será
invejado(a).
Até aí tudo bem. Isso é humano. Mas por aqui, creio que seja extrapolado.
Alardeie suas conquistas e prepare-se para lidar com uma legião de haters.
Não que alardear suas conquistas seja algo produtivo, mas é exagerada a reação
dos odiadores.
Acredito que não agregue a ninguém você se auto promover, pelo contrário, reduz
sua imagem.
Nos negócios, que é uma questão de confiança, você deve se posicionar e ser
(importante isso) como alguém que pensa e age para o sucesso do seu cliente ou
da empresa na qual você trabalha.
Aí sim, você será considerado. Pense nisso. Essa é uma mudança profunda que
você pode buscar para ampliar seu raio de ação.
A partir do momento que seu sucesso advém como fruto do sucesso de quem você
preza, você terá uma legião de adoradores.
Agora, com relação ao público externo, esqueça. Sempre haverá críticos e
odiadores, por conta da pura inveja.
Mas enquanto os cães ladram, a caravana passa.
4. Retornos e atrasos
Melhorou nos
últimos anos, mas por aqui no Brasil, chegar atrasado meia hora para uma
reunião era normal (sabe como é o trânsito, né?).
Nunca me conformei com isso. Eu saio e chego na maioria das vezes com meia hora
de antecedência e chego a passar vergonha por ter chegado tão mais cedo.
Prefiro isso, do que chegar atrasado para um encontro.
E essa mania de f...-se que a maioria age, não é só nos negócios, é na vida
familiar e pessoal. Parece que por aqu, o tempo dos outros vale menos.
Isso tem a ver muito com a nossa cultura de baixa empatia, baixa solidariedade,
baixa compaixão, baixa auto-estima.
Mas melhorou muito nos últimos 10 anos. Ainda há atrasos em tudo (em chegar na
hora certa, em dar o retorno, em entregar um serviço) mas bem menor do que antes. Pelo menos essa é a
minha sensação.
5. Conhecimento e intelectualidade
Ser professor por aqui é sinal de ser um trabalhador sofredor que ganha pouco e
ensina mal.
Não ensinamos dentro de casa aos nossos filhos o respeito devido aos outros e
principalmente aos pais e professores.
Na Grécia, nós beijávamos as mãos dos nossos professores, pais e autoridades
religiosas. Você deve aprender a se curvar frente à uma autoridade. Isso é
fundamental para a formação do caráter e senso de civismo.
Aqui uma pessoa que anda com carro de luxo é tida como mais bem sucedida que
uma pessoa que fez doutorado ou concluiu um MBA. Ambos não se devem ostentar,
pelo que mencionei acima, mas dar publicidade aos seus bens materiais é tido
como um sinal de "cheguei lá e você não."
Escrever um livro, dar aula em uma faculdade renomada, proferir palestras,
defender teses, ou seja, dar publicidade a sua atividade intelectual também
causa desconforto a outrem. É tido como um sinal de "eu ensino e você
não".
Bem, nosso código é imperfeito, mas é
esse.
Morei na Europa, onde me alfabetizei na Grécia e nos Estados Unidos, onde
trabalhei como carregador de móveis para sustentar meus estudos.
Sou brasileiro e por mais que você tenha dificuldade em acreditar nisso, tenho
muito orgulho do nosso país.
Somos o celeiro do mundo. Sim, não exportamos tecnologia. Exportamos comida. É
mais importante.
Esqueça o noticiário. Não vai te ajudar em muita coisa.
Crie seu código de conduta pessoal e coloque as melhores pessoas nos seus raios
de ação mais próximos e cresça.
A soberba precede a destruição.
Humildade, foco, trabalho árduo que chegaremos lá. E deixe falarem.
OBSERVAÇÃO: EXTRAÍDO DO BLOG - DOUTOR RUY ARMANDO GESSINGER - rs
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