Pete Seeger - legenda do folk americano |
Pete Seeger, falecido na segunda-feira aos 94 anos em Beacon, no Estado de Nova York, foi a grande consciência dos Estados Unidos através de centenas de canções, que documentavam as injustiças, as lutas e os sonhos da sociedade civil norte-americana no século XX.
Durante os anos sessenta, envolveu-se na luta pelos direitos civis dos negros apoiando os ativistas. De fato, um dos hinos do movimento, liderado por Martin Luther King Jr., foi uma de suas canções We shall overcome, que na verdade era uma variação que fez de um velho canto espiritual do gospel. E, antes de que a Guerra do Vietnã se convertesse em um assunto nacional, em parte porque não paravam de chegar caixões com jovens soldados tombados em solo vietnamita e estes não queriam ser recrutados, Seeger se opôs com veemência à intervenção militar norte-americana. Dedicou uma feroz canção ao presidente Lyndon Johnson em meados dos anos sessenta por sua agressiva política exterior, chegando a ser censurado na televisão.
Amante das essências do folk, relutante em modernizar do gênero, o que o levou a ter uma audiência a cada vez mais reduzida, o nome de Seeger também está associado a uma das lendas mais conhecidas da música norte-americana. É aquela na que se conta que ele tentou, com um machado, cortar os cabos da guitarra que Bob Dylan utilizou durante sua atuação no célebre festival de Newport de 1965, quando o bardo de Minnessotta começou sua revolução sonora que o levaria a converter em uma estrela pop à altura de The Beatles. Com os anos, várias testemunhas daquele show desmentiram tal acontecimento, embora ninguém duvide nunca do aguerrido caráter de Seeger, que às vezes era muito mal humorado.
Sem deixar nunca de compor e recuperar composições tradicionais, cantou para o movimento operário, apoiou a luta pelo meio ambiente e clamou contra as campanhas belicistas. Destinou os benefícios que recebia pela canção We shall overcome às organizações que apoiavam os afro-americanos mais desfavorecidos do Sul. Nunca separou seu ideário político de sua música, chegando a dedicar um disco às Brigadas Internacionais na Guerra Civil Espanhola.
Antes, em 1994, Bill Clinton tinha concedido a ele a prestigiosa Medalha Nacional das Artes por sua contribuição à cultura norte-americana. Por seu 90º aniversário, celebrou-se um concerto homenagem no Madison Square Garden no que Bruce Springsteen o apresentou como "um arquivo vivo da música americana e de sua consciência, um testamento do poder da canção e a cultura”. Ali estiveram Emmylou Harris, Joan Baez, Roger McGuinn de The Byrds ou John Mellencamp.
Na verdade, é muito difícil encontrar no panorama musical de hoje gente da amplitude de Pete Seeger. Músicos que em si mesmos são seiva da América do Norte por seu discurso popular, sua obra de rua, sua influência em várias gerações e seu compromisso com sua arte e seu meio. Em suma, é muito difícil, neste mundo de consumo instantâneo, no qual poucas coisas parecem perdurar, captar o tamanho e o corte da figura de Seeger, o músico que dizia de sua humilde guitarra: "Este instrumento pega o ódio e o obriga a se submeter". Era sua espada, brandindo sempre contra os algozes.
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