Gabeira,Serra,FHC,Kassab,Alckmin e A.Ferreira |
Dias atrás, en passant li um artigo escrito pelo Fernando Gabeira no Estadão de São Paulo. Tal artigo intitulávase " DNA do Mensalão". Como retrata no título, Gabeira faz comentários a respeito do tema da hora na Terra Brasilis, o Mensalão e discorria, entre outras coisas, sobre a ética moral na política. Comecei a escrever sobre Fernando Gabeira e deixei, por falta de tempo, o texto na metade. Hoje recebo através de mail um comentário feito em Porto Alegre RS, por Rogério Oliveira, advogado gaúcho. Deixei meu comentário de lado pois o texto do nobre advogado vem a retratar exatamente aquilo que penso e ia escrever a respeito do Sr. Fernando Gabeira. Faço minhas palavras , o escrivinhado abaixo.;
LORDE GABEIRA, QUE DOIDEIRA.
Li o artigo abaixo, de autoria de Fernando
Gabeira, publicado no jornalão “O Estado de São Paulo”.
Tentei seguir a linha de raciocínio lógico do
ex-guerrilheiro de esquerda. Aquele mesmo que tornou-se famoso ao
participar do sequestro do embaixador estadunidense Charles Elbrick,
durante a fase mais crítica da ditadura (ele era o inquilino da casa
que serviu de cativeiro e permaneceu lá durante todo o
seqüestro). O mesmo Gabeira que, após retornar do exílio, depois da ditadura,
tornou-se famoso ao defender convictamente a importação de maconha por
usuários da droga, tendo ele mesmo protagonizado uma “importação” da
erva, acabando preso num aeroporto. E me recordo sempre do Gabeira
alternativo, adepto do uso de uma indumentária para lá de controvertida:
tangas de crochê.
As impressões que se construíram a partir daí e
até hoje sobre Gabeira somente se confirmaram. O que o artigo
abaixo não desmente. Lamuriento, talvez orgulhoso, jamais perdoou o PT
inteiro, partido o qual integrou por duas vezes, por ter sido
obrigado a aguardar durante uma hora até ser recebido pelo ex-Ministro-Chefe
da Casa Civil do primeiro governo Lula,seu antigo companheiro de
lutas José Dirceu (“o que é isto, companheiro?”). Gabeira virou inimigo
declarado de Dirceu após este acontecimento e este ódio estampa-se
agora, em meio ao processo do suposto mensalão, onde Dirceu é um dos
réus mais abatidos e malhados politicamente pela oposição.
Gabeira tem um passado honroso, se interessa por
causas nobres (ecologia, direitos das minorias, etc.) e defende
algumas causas nem tão nobres assim, como a da descriminalização da
maconha e a da liberdade de importação livre da “erva danada”,
que são grandes bandeiras suas. No céu ideológico e partidário da política, faz um
vôo reto, talvez cego, indo da esquerda para a direita, tendo
chegado ao ponto de aliar-se ao neoliberal PSDB e de apoiar o
candidato tucano nas últimas eleições presidenciais.
Na área da conduta moral e ética, ele se complica
um pouco. Além de cometer aquela tentativa frustrada de trazer maconha do exterior, Gabeira teve que reconhecer, há algum tempo atrás,
que alguns amigos e
protegidos seus utilizavam-se de verbas do seu
gabinete de deputado federal para pagar vôos com o dinheiro do contribuinte. Descoberta a falcatrua, ele chegou a declarar, solenemente, que abandonaria a carreira política. Porém, voltou atrás e perdoou a
si mesmo pela “derrapada”. Hoje, prega ética e moral na
mídia aos réus do suposto mensalão e faz discursos como o artigo abaixo (os analistas
mais espirituosos dizem que ele “prega moral vestido
somente com uma sunga de crochê”...).
Sempre e cada vez mais anti-PT, o que, no caso de
Gabeira, é uma bandeira de sua atuação política, tem ele se
mantido sobre um pilar de sustentação política curioso e engenhoso:
encarnando a aura de ex-esquerdista e de ex-guerrilheiro, ex-combatente
da ditadura, apresenta-se ao eleitorado como um letrado na
análise política contemporânea, como se fora alguém que evoluiu
muito acima dos próprios esquerdistas. Se faz passar por um
intelectual vanguardista, no que usa sua boa escrita e discursos com voz
sempre bem postada e empolada. Porém, no fundo de todos os seus escritos e
discursos, nada há de efetivamente estruturado. O que vem mantendo
Gabeira politicamente vivo é exatamente o jogo político que ele faz em
torno dos partidos de centro-direita, como o próprio PSDB. Ele destila o
seu fel contra a esquerda, a partir da trincheira do seu minúsculo
Partido Verde, não reconhece nenhum dos avanços conquistados pela
cidadania brasileira nesta última década e só faz atacar, implacável e
incessantemente, a mesma esquerda política e ideológica que um dia o
colocou à luz da notoriedade. Ao fazer isso, Gabeira abre espaço
calculado para a aproximação da direita, permitindo a formação de
alianças eleitorais entre o PV, seu partido, e os partidos neoliberais
conservadores alijados do poder federal. Nessa onda, disputou o
governo da prefeitura e o do Estado do RJ, conseguindo chegar
em segundo lugar nestes pleitos. Se Gabeira é um bom estrategista e calculista
eleitoral, mostra-se um bêbado equilibrista em termos ideológicos, com
suas idéias oscilantes e indefinidas. Talvez ele não tenha nenhuma idéia
perfeitamente estruturada. Ou talvez as esconda, caso as tenha,
secretamente, já que precisa agradar sempre a gregos e troianos para
satisfazer suas ambições eleitorais. Ao fim e ao cabo, o discurso que faz sobre
moralidade, ética e vergonha na cara é vazio e sem profundidade.
Até porque ele próprio não serve de exemplo, como já teve, ao menos, o
escrúpulo de reconhecer. Gabeira sobrevive eleitoralmente
agarrado a este lustro intelectual, debaixo do qual jamais brotam suas
exatas convicções políticas. Ninguém sabe em que lado ele estará
amanhã, o que
defenderá. Sequer as privatizações mereceram um
posicionamento firma dele. Na sua trajetória em direção à direita. no
espectro ideológico, ele criticou os dois governos do Lula desde a
primeira hora. Não concedeu ao metalúrgico tempo sequer para que
esquentasse a cadeira.
Novas decepções ele colheu com a reeleição de Lula
e na eleição de Dilma. Hoje, ele revela amargura, no seu
discurso de desesperança. Mas esta é a desesperança dos seus próprios
projetos políticos. Gabeira, no fundo, queria ter liderado um poder
esquerdista intelectual despojado. Uma antítese, em parte, do
Governo Collor, mas com as mesmas esquisitices. Imagino a cena de um
Gabeira-Presidente: cercado de ministros “alternativos”, todos de
jeans, envolvidos em reuniões filosóficas intermináveis, em ambientes
esfumaçados pela canabis sativa liberada nas esferas do poder para
permitir uma “maior abrangência psico-mental na tomada de decisões”
(justificativa oficial). Nos salões do Palácio do Planalto,
Gabeira e sua turma exótica filosofariam bastante para tentar
descobrir os problemas reais do Brasil e achar as soluções para o povo. Vários
ministros vestiriam sungas de crochê nos finais-de-semana, como o
“mestre”. Se o sonho de todo o político é alcançar o poder máximo, imagino
que a Presidência de República deva ter sido um sonho dourado de um
Gabeira ainda romântico, hoje frustrado, o mesmo que ainda corre
atrás de suas próprias convicções. Porém, o que ocorreu no “mundo real” deve ter sido
um horror ao Gabeira, lá em outubro de 2002. O quê? Logo um
operário metalúrgico “iletrado” foi escolhido para ocupar o Palácio?
Desgostoso, passou a empenhar-se na tarefa de
mal-dizer esta esquerda rude, de origem sindical, que alcançou o poder,
por que esta não é a “sua esquerda”. Por isso, Gabeira passou a
igualar-se em esforços
junto aos mais empedernidos fisiologistas
opositores do partido do metalúrgico, com vistas a desgastá-lo e retirá-lo
do poder. Propósito para o qual o escândalo do Mensalão caiu como um
luva, porém, sem êxito algum, como viu-se. E a coisa ficou assim: para os muitos esquerdistas
e saudosistas, Gabeira é hoje respeitado por seu passado, pelas
lutas e riscos que assumiu. Pelos oposicionistas e oportunistas de
plantão dos partidos de centro-direita, Gabeira é hoje respeitado pelos
estragos que talvez possa produzir com suas críticas ferinas ao PT e
aos aliados da base governista. Dos eleitorados feminino e jovem, por
fim, Gabeira ganha votos pela imagem de crítico independente e
moderno que sabe cultivar de forma tão astuta quanto artificial. Como
se vê, um grande tabuleiro onde todos são oportunistas. Gabeira é isso. Se segura na contra-mão, ganha
votos mais por aquilo que não é do que pelo que imagina ser. Vaga
entre a imagem de um passado que o acompanha e a ameaça potencial que
incorpora à sua própria pessoa política, como se tivesse o poder
de abalar os poderes da República. É um mestre em fazer o jogo não
declarado, em faturar em cima das indefinições sobre de si mesmo. Capitaliza para si, assim, de alguma forma,
expectativas soltas do eleitorado do Rio de Janeiro, muito provavelmente
recolhendo votos de setores minoritários dos vários sub-eleitorados
que, por alguma razão, não votam na situação.
A Revista Veja, uma publicação declaradamente
não-isenta, adepta dos projetos tucanos de poder, já dedicou ao Gabeira
várias capas e artigos, apresentando-o como uma espécie de lorde
político, menos pelo
que Gabeira é e mais por ser alguém que abandonou
a esquerda depois de freqüentá-la na copa e cozinha, horrorizando-se
com os “monstros” que viu por lá. Por trás da aparente neutralidade e falsa
independência política de Gabeira (sim, pois, se ele não falar mal da
situação, não ganha os espaços que a imprensa sempre lhe concede), os
opositores do governo, os mesmos que fazem de tudo para desgastar a
imagem dos partidos da base governista, o têm como espécie de aliado
exótico e de luxo, um trunfo para ser usado quando necessário. Gabeira
sabe bem disso e submete-se a este jogo hipócrita porque tem seus
ganhos para faturar. Por isso, quando tem algo a dizer, abrem-se a ele
as páginas dos mais mentirosos órgãos da imprensa tradicional e
conservadora do país. Um jogo que lhe garante notoriedade e presença mais
ou menos constante na mídia. Isto levou-o ao segundo turno das
eleições para o governo estadual carioca, quando sua candidatura esteve
apoiada por partidos tão ideologicamente “intragáveis” entre si como o
PV e o PSDB.
Imagine-se o Serra e a Marina Silva como
secretários de um mesmo Governo Gabeira no RJ. Quem, então, sair à caça das idéias efetivas do
Gabeira, saiba que voltará de mãos vazias. Tão vazias quanto a
fumaceira das sessões de canabis a que ele tanto é apegado, ao ponto de
defender a descriminalização desta droga e a livre importação
de maconha por parte dos consumidores. Há, aí, aliás, uma janela,
um espaço em branco, onde deveria estar a fonte de suas
vertentes intelectuais. Se Gabeira defendesse hoje apenas causas ecológicas e
direitos das minorias, deixando a droga de lado, conseguiria
ocultar este lado que acaba transparecendo de sua personalidade, no caso
da maconha. Um lado que revela uma ignorância crua com o problema
das drogas e uma irresponsabilidade enorme com o futuro de todos
aqueles que se perdem e se vitimam, no mundo real, pelos caminhos da
drogadição.
O Brasil de 2012, talvez, seja menos Brasil para o
Gabeira porque aqui a maconha ainda não esteja liberada, não
importando que 70 milhões de brasileiros acessaram um patamar mais digno de
cidadania, com 40 milhões retirados do limbo da pobreza (a estes,
longa e centenária fora a sede e a fome) e que o país tenha conseguido vencer, enfim, o grande desafio de encontrar o caminho do
crescimento econômico
sustentado, sem milagreiros e sem pacotes
econômicos mirabolantes. E tudo isso sob o céu de uma democracia consolidada.
Tudo, quem diria, conquistado pelos brasileiros após a chegada
democrática ao poder da mesma esquerda a que Gabeira pertenceu, a
esquerda que hoje ele hostiliza e busca vampirizar.
O
que é isso, companheiro? Doideira incurável?
Rogério Guimarães Oliveira
Porto Alegre/RS
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