sexta-feira, 17 de agosto de 2012

"QUI É ISSO CUMPANHEIRO...."

Gabeira,Serra,FHC,Kassab,Alckmin e A.Ferreira


Dias atrás, en passant li um artigo escrito pelo Fernando Gabeira no  Estadão de São Paulo. Tal artigo intitulávase " DNA do Mensalão". Como retrata no título, Gabeira faz comentários a respeito do tema da hora na Terra Brasilis, o Mensalão e discorria, entre outras coisas, sobre a ética moral na política. Comecei a escrever sobre Fernando Gabeira e deixei, por falta de tempo, o texto na metade. Hoje recebo através de mail um comentário feito em Porto Alegre RS, por Rogério Oliveira, advogado gaúcho. Deixei meu comentário de lado pois o texto do nobre advogado vem a retratar exatamente aquilo que penso e ia escrever a respeito do Sr. Fernando Gabeira. Faço minhas palavras , o escrivinhado abaixo.; 


LORDE GABEIRA, QUE DOIDEIRA.

Li  o  artigo abaixo,  de  autoria de Fernando Gabeira, publicado no jornalão “O Estado de São Paulo”.

Tentei seguir a linha de raciocínio lógico do ex-guerrilheiro de esquerda. Aquele mesmo que tornou-se famoso ao participar do sequestro do embaixador estadunidense Charles Elbrick, durante a fase mais crítica da ditadura (ele era o inquilino da casa que serviu de cativeiro e permaneceu lá durante todo o seqüestro). O mesmo Gabeira que, após retornar do exílio, depois da ditadura, tornou-se famoso ao defender convictamente a importação de maconha por usuários da droga, tendo ele mesmo protagonizado uma “importação” da erva, acabando preso num aeroporto. E me recordo sempre do Gabeira alternativo, adepto do uso de uma indumentária para lá de controvertida: tangas de crochê.

As impressões que se construíram a partir daí e até hoje sobre Gabeira somente se confirmaram. O que o artigo abaixo não desmente. Lamuriento, talvez orgulhoso, jamais perdoou o PT inteiro, partido o qual integrou por duas vezes, por ter sido obrigado a aguardar durante uma hora até ser recebido pelo ex-Ministro-Chefe da  Casa Civil  do  primeiro  governo Lula,seu antigo companheiro de lutas José Dirceu (“o que é isto, companheiro?”). Gabeira virou inimigo declarado de Dirceu após este acontecimento e este ódio estampa-se agora, em meio ao processo do suposto mensalão, onde Dirceu é um dos réus mais abatidos e malhados politicamente pela oposição.

Gabeira tem um passado honroso, se interessa por causas nobres (ecologia, direitos das minorias, etc.) e defende algumas causas nem tão nobres assim, como a da descriminalização da maconha e a da liberdade de importação livre da “erva danada”, que são grandes bandeiras suas. No céu ideológico e partidário da política, faz um vôo reto, talvez cego, indo da esquerda para a direita, tendo chegado ao ponto de aliar-se ao neoliberal PSDB e de apoiar o candidato tucano nas últimas eleições presidenciais.
Na área da conduta moral e ética, ele se complica um pouco.  Além de cometer aquela tentativa frustrada de trazer  maconha  do  exterior, Gabeira  teve que  reconhecer,  há algum tempo atrás, que alguns amigos e
protegidos seus utilizavam-se de verbas do seu gabinete de deputado federal para pagar vôos com o dinheiro  do  contribuinte.  Descoberta  a falcatrua, ele chegou a declarar,  solenemente,  que  abandonaria  a carreira política. Porém, voltou atrás e perdoou a si mesmo pela “derrapada”.  Hoje, prega ética e moral na mídia aos réus do suposto mensalão e faz discursos como o artigo abaixo (os analistas mais espirituosos dizem que ele “prega moral vestido somente com uma sunga de crochê”...).
Sempre e cada vez mais anti-PT, o que, no caso de Gabeira, é uma bandeira de sua atuação política, tem ele se mantido sobre um pilar de sustentação política curioso e engenhoso: encarnando a aura de ex-esquerdista e de ex-guerrilheiro, ex-combatente da ditadura, apresenta-se ao eleitorado como um letrado na análise política contemporânea, como se fora alguém que evoluiu muito acima dos próprios esquerdistas. Se faz passar por um intelectual vanguardista, no que usa sua boa escrita e discursos com voz sempre bem postada e empolada. Porém, no fundo de todos os seus escritos e discursos, nada há de efetivamente estruturado. O que vem mantendo Gabeira politicamente vivo é exatamente o jogo político que ele faz em torno dos partidos de centro-direita, como o próprio PSDB. Ele destila o seu fel contra a esquerda, a partir da trincheira do seu minúsculo Partido Verde, não reconhece nenhum dos avanços conquistados pela cidadania brasileira nesta última década e só faz atacar, implacável e incessantemente, a mesma esquerda política e ideológica que um dia o colocou à luz da notoriedade. Ao fazer isso, Gabeira abre espaço calculado para a aproximação da direita, permitindo a formação de alianças eleitorais entre o PV, seu partido, e os partidos neoliberais conservadores alijados do poder federal. Nessa onda, disputou o governo da prefeitura e o do Estado do RJ, conseguindo chegar em segundo lugar nestes pleitos. Se Gabeira é um bom estrategista e calculista eleitoral, mostra-se um bêbado equilibrista em termos ideológicos, com suas idéias oscilantes e indefinidas. Talvez ele não tenha nenhuma idéia perfeitamente estruturada. Ou talvez as esconda, caso as tenha, secretamente, já que precisa agradar sempre a gregos e troianos para satisfazer suas ambições eleitorais. Ao fim e ao cabo, o discurso que faz sobre moralidade, ética e vergonha na cara é vazio e sem profundidade.  Até porque ele próprio não serve de exemplo, como já teve, ao menos, o escrúpulo de reconhecer. Gabeira sobrevive eleitoralmente agarrado a este lustro intelectual, debaixo do qual jamais brotam suas exatas convicções políticas. Ninguém sabe em que lado ele estará amanhã, o que
defenderá. Sequer as privatizações mereceram um posicionamento firma dele. Na sua trajetória em direção à direita. no espectro ideológico, ele criticou os dois governos do Lula desde a primeira hora. Não concedeu ao metalúrgico tempo sequer para que esquentasse a cadeira.
Novas decepções ele colheu com a reeleição de Lula e na eleição de Dilma.  Hoje, ele revela amargura, no seu discurso de desesperança. Mas esta é a desesperança dos seus próprios projetos políticos. Gabeira, no fundo, queria ter liderado um poder esquerdista intelectual despojado. Uma antítese, em parte, do Governo Collor, mas com as mesmas esquisitices. Imagino a cena de um Gabeira-Presidente: cercado de ministros “alternativos”, todos de jeans, envolvidos em reuniões filosóficas intermináveis, em ambientes esfumaçados pela canabis sativa liberada nas esferas do poder para permitir uma “maior abrangência psico-mental na tomada de decisões” (justificativa oficial). Nos salões do Palácio do Planalto, Gabeira e sua turma exótica filosofariam bastante para tentar descobrir os problemas reais do Brasil e achar as soluções para o povo. Vários ministros vestiriam sungas de crochê nos finais-de-semana, como o “mestre”.  Se o sonho de todo o político é alcançar o poder máximo, imagino que a Presidência de República deva ter sido um sonho dourado de um Gabeira ainda romântico, hoje frustrado, o mesmo que ainda corre atrás de suas próprias convicções. Porém, o que ocorreu no “mundo real” deve ter sido um horror ao Gabeira, lá em outubro de 2002. O quê? Logo um operário metalúrgico “iletrado” foi escolhido para ocupar o Palácio?
Desgostoso, passou a empenhar-se na tarefa de mal-dizer esta esquerda rude, de origem sindical, que alcançou o poder, por que esta não é a “sua esquerda”.  Por isso, Gabeira passou a igualar-se em esforços
junto aos mais empedernidos fisiologistas opositores do partido do metalúrgico, com vistas a desgastá-lo e retirá-lo do poder. Propósito para o qual o escândalo do Mensalão caiu como um luva, porém, sem êxito algum, como viu-se. E a coisa ficou assim: para os muitos esquerdistas e saudosistas, Gabeira é hoje respeitado por seu passado, pelas lutas e riscos que assumiu. Pelos oposicionistas e oportunistas de plantão dos partidos de centro-direita, Gabeira é hoje respeitado pelos estragos que talvez possa produzir com suas críticas ferinas ao PT e aos aliados da base governista. Dos eleitorados feminino e jovem, por fim, Gabeira ganha votos pela imagem de crítico independente e moderno que sabe cultivar de forma tão astuta quanto artificial.  Como se vê, um grande tabuleiro onde todos são oportunistas. Gabeira é isso. Se segura na contra-mão, ganha votos mais por aquilo que não é do que pelo que imagina ser.  Vaga entre a imagem de um passado que o acompanha e a ameaça potencial que incorpora à sua própria pessoa política, como se tivesse o poder de abalar os poderes da República. É um mestre em fazer o jogo não declarado, em faturar em cima das indefinições sobre de si mesmo. Capitaliza para si, assim, de alguma forma, expectativas soltas do eleitorado do Rio de Janeiro, muito provavelmente recolhendo votos de setores minoritários dos vários sub-eleitorados que, por alguma razão, não votam na situação.
A Revista Veja, uma publicação declaradamente não-isenta, adepta dos projetos tucanos de poder, já dedicou ao Gabeira várias capas e artigos, apresentando-o como uma espécie de lorde político, menos pelo
que Gabeira é e mais por ser alguém que abandonou a esquerda depois de freqüentá-la na copa e cozinha, horrorizando-se com os “monstros” que viu por lá. Por trás da aparente neutralidade e falsa independência política de Gabeira (sim, pois, se ele não falar mal da situação, não ganha os espaços que a imprensa sempre lhe concede), os opositores do governo, os mesmos que fazem de tudo para desgastar a imagem dos partidos da base governista, o têm como espécie de aliado exótico e de luxo, um trunfo para ser usado quando necessário. Gabeira sabe bem disso e submete-se a este jogo hipócrita porque tem seus ganhos para faturar. Por isso, quando tem algo a dizer, abrem-se a ele as páginas dos mais mentirosos órgãos da imprensa tradicional e conservadora do país. Um jogo que lhe garante notoriedade e presença mais ou menos constante na mídia.  Isto levou-o ao segundo turno das eleições para o governo estadual carioca, quando sua candidatura esteve apoiada por partidos tão ideologicamente “intragáveis” entre si como o PV e o PSDB.
Imagine-se o Serra e a Marina Silva como secretários de um mesmo Governo Gabeira no RJ. Quem, então, sair à caça das idéias efetivas do Gabeira, saiba que voltará de mãos vazias. Tão vazias quanto a fumaceira das sessões de canabis a que ele tanto é apegado, ao ponto de defender a descriminalização desta droga e a livre importação de maconha por parte dos consumidores. Há, aí, aliás, uma janela, um espaço em branco, onde deveria estar a fonte de suas vertentes intelectuais. Se Gabeira defendesse hoje apenas causas ecológicas e direitos das minorias, deixando a droga de lado, conseguiria ocultar este lado que acaba transparecendo de sua personalidade, no caso da maconha.  Um lado que revela uma ignorância crua com o problema das drogas e uma irresponsabilidade enorme com o futuro de todos aqueles que se perdem e se vitimam, no mundo real, pelos caminhos da drogadição.
O Brasil de 2012, talvez, seja menos Brasil para o Gabeira porque aqui a maconha ainda não esteja liberada, não importando que 70 milhões de brasileiros acessaram um patamar mais digno de cidadania, com 40 milhões retirados do limbo da pobreza (a estes, longa e centenária fora a sede e a fome) e que o país  tenha  conseguido  vencer,  enfim, o grande desafio de encontrar o caminho do crescimento econômico
sustentado, sem milagreiros e sem pacotes econômicos mirabolantes. E tudo isso sob o céu de uma democracia consolidada. Tudo, quem diria, conquistado pelos brasileiros após a chegada democrática ao poder da mesma esquerda a que Gabeira pertenceu, a esquerda que hoje ele hostiliza e busca vampirizar.

O que é isso, companheiro?  Doideira incurável?


Rogério Guimarães Oliveira

Porto Alegre/RS

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