terça-feira, 28 de janeiro de 2025



                             Familiares das vítimas do incêndio na Boite Kiss em  Santa Maria,  Rio Grande do Sul  acionaram  a     COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CIDH) usando documento com aproximadamente 200 páginas em que descrevem em detalhes os acontecimentos da tragédia ocorrida a 12 anos atrás e que se arrasta sem solução até esta data. Nesse documento, acusam formalmente o Estado brasileiro no sentido de que tem responsabilidade pelo acontecido pelos mais variados motivos, entre os quais, negligencia e inúmeras falhas administrativas que acabaram ocasionando a tragédia

Lá pereceram 242 jovens e foram computados ordem de 650 feridos. O incêndio teria sido provocado por artefato pirotécnico aceso pelo grupo musical que lá se apresentava. Como o revestimento da boite era de espuma (instalado irregularmente) a maioria dos mortos e feridos sofreu asfixia devido a gases altamente tóxicos oriundos da queima desse revestimento .  Somado a isto, várias irregularidades como,  local sem alvará de funcionamento, janelas e portas obstruídas e as pessoas não conseguiram sair, sem saídas de emergência adequadas e superlotação.

Nessa denúncia à Comissão Interamericana os familiares e vítimas sobreviventes, clamam pela responsabilidade direta de vários agentes públicos como o Prefeito na época Cezar Schirmer e vários secretários do município. Também cobram o péssimo trabalho do Ministério Público gaúcho bem como o Poder Judiciário. Advogados usam inúmeros recursos processuais que visam apenas procrastinar o processo e chegar a prescrição do mesmo. 

A realidade é que isto se arrasta sem solução e a cada dia que passa mais a sociedade está ficando incrédula com o procedimento dessas autoridades que deveriam tomar providencias urgentes para dar uma satisfação a todos os familiares desses inocentes mortos devido,  principalmente pela omissão e incompetência do poder público. Uma realidade que salta aos olhos das pessoas e que faz com que a cada dia que passa mais e mais nos tornemos descrentes na Justiça deste País.

O que a CIDH pode fazer no caso é apenas recomendações ao Governo e se essas recomendações não tiverem eco poderá , aí sim, tomar algumas providencias como levar esse caso sem solução a 12 anos ( incrível) a julgamento na Corte Internacional  de Direitos Humanos.  Quem sabe lá isso se resolva de forma a mitigar a dor dessas famílias penalizadas todos os dias com a lembrança e a saudade eterna  de seus entes queridos.

sábado, 25 de janeiro de 2025

 


O fim do mundo, embora tão discreto

              Julián Fuks - Colunista de Ecoa - UOL



O presidente dos EUA, Donald Trump, dança enquanto ele e a primeira-dama, Melania Trump, chegam à arena Capital One, em Washington, nos EUA.

Parece até absurdo reputá-lo discreto: o fim do mundo tem cútis laranja e cabelos de labareda. Quando fala, sua cabeça pende, suas sobrancelhas se arqueiam, seus lábios se franzem, seu rosto inteiro se contorce numa careta. O fim do mundo insulta, esbraveja, protesta, faz bravatas estapafúrdias, mente. Mas parece que todos aprendemos a ouvi-lo com alguma fleuma e no instante seguinte esquecê-lo. O fim do mundo já não nos concerne.

O fim do mundo foi eleito democraticamente, embora não tenha pela democracia nenhum apreço — quando perdeu, tratou de destruir o mesmo prédio onde celebrou sua posse desta vez. O fim do mundo quer passar como defensor da paz, e se arvora de costurar acordos que nada devem a ele.

O fim do mundo inventa inimigos inexistentes, internos e externos, e inventa maneiras esdrúxulas de irritar cada um deles. O fim do mundo quer tomar para si a maior ilha do planeta, quer mudar o nome dos golfos, quer controlar a passagem entre os oceanos. O fim do mundo é um provocador barato, que nos causa riso quando deveria causar repulsa… -

O fim do mundo prega o discurso livre, exige a liberdade de destruir em palavras o outro, a verdade, a razão, a justiça. O fim do mundo se incomoda quando não pode difundir ao máximo seu discurso de perseguição e ódio. O fim do mundo tem um porta-voz bizarro, que faz saudação nazista fingindo que é afago no coração.

 O fim do mundo se finge de decisão protocolar. Apenas retira sua assinatura de um acordo internacional, e com isso ganha leveza para continuar a exercer seus prazeres de fim de mundo. Explora, consome, queima, calcina. O fim do mundo não sente calor nenhum, não vê mais que acaso em tempestades, inundações, incêndios, tufões. O fim do mundo não acredita no fim do mundo…

Tentaram matar o fim do mundo. Acreditaram que poderiam matá-lo com um tiro, acertaram de raspão sua orelha. Discutiu-se com razão a brutalidade insana com que um homem quis se livrar do problema. Todos vimos como ainda é eficiente, como se mantém em forma o fim do mundo no nosso século. Em todo caso, é bem evidente que um tiro certeiro causaria apenas a morte trágica de um homem, e não o fim do fim do mundo.

O fim do mundo é uma notícia velha, a mesma notícia de uns anos atrás, a mesma notícia em tantos países. Ninguém aguenta mais que se fale em fim do mundo. O fim do mundo empalidece diante do futebol, do cinema, da literatura em seus flagrantes escândalos. Não é de todo injusto: a vida importa mais que o fim do mundo. O fim do mundo já não provoca a comoção que provocou um dia… -

sobre o autor: Julián Fuks é escritor e crítico literário. Nascido em São Paulo em 1981, é autor de A ocupação (2019) e A resistência (2015), livro vencedor dos prêmios Jabuti, Saramago, Oceanos e Anna Seghers. É doutor em Teoria Literária e mestre em Literatura Hispano-americana, ambos pela Universidade de São Paulo. Suas obras já foram traduzidas para nove línguas e publicadas em diversos países.

        DIGO EU: o autor expressou o que todas as pessoas de bem neste mundo pensam!!!